Com novo plano, Gol e Latam disputam ativos da Avianca

A Avianca Brasil viveu uma reviravolta nas últimas 48 horas. Na terça-feira, o grupo de investimentos Elliott, maior credor da companhia no processo de recuperação judicial, com US$ 515 milhões a receber, informou que tinha uma nova proposta de reestruturação e já contava com dois investidores: a Gol e a Latam.

A proposta foi avaliada durante a madrugada pelos advogados da Avianca Brasil e entregue ontem ao juiz Tiago Limongi, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. O Valor apurou que o Elliott pressionou a Avianca a adotar o novo plano.

A ideia, que deve ser votada pelos credores da Avianca Brasil na assembleia marcada para amanhã, é criar sete unidades produtivas isoladas (UPIs), que irão a leilão – e não apenas uma, como no plano inicial. Seis das UPIs terão partes dos direitos de pousos e decolagens (“slots”) da Avianca nos aeroportos de Congonhas, Guarulhos e Santos Dumont. Se vender essas unidades, a empresa aérea ainda ficará com 16 voos em outros aeroportos. Uma sétima UPI vai englobar o programa de fidelidade.

De acordo com fontes próximas às negociações, o objetivo do novo plano é arrecadar mais dinheiro para o pagamento das dívidas da Avianca Brasil. O plano prevê o leilão de um bloco de três UPIs pelo preço mínimo de US$ 70 milhões. Outras duas UPIs serão leiloadas com preço mínimo de US$ 70 milhões cada uma. O Valor apurou que, nas tratativas com o Elliott, a Gol e a Latam demonstraram interesse em levar UPIs diferentes.

Ontem de manhã, a Gol e a Latam anunciaram que fecharam acordos comprometendo-se, cada uma, a fazer uma oferta de pelo menos US$ 70 milhões por uma das UPIs. A Gol também se comprometeu a fazer um empréstimo de US$ 8 milhões à Avianca Brasil, para capital de giro. A Latam vai emprestar US$ 13 milhões.

Com essa proposta, a Avianca já arrecadaria ao menos US$ 140 milhões com duas UPIs. No plano anterior, apenas a Azul tinha demonstrado interesse em adquirir a unidade produtiva isolada a ser criada, por US$ 105 milhões.
Uma fonte próxima da Azul disse que a companhia vai analisar o novo plano para saber quais ativos cada UPI terá e fazer proposta por uma ou mais unidades. “A Azul vai criar uma nova estratégia para o leilão”, afirmou a fonte.
Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil, disse que a companhia também pode fazer propostas por mais de uma UPI.

“Vamos buscar entre as UPIs a que complementar melhor nossas operações. Podemos levar uma UPI, duas ou três, isso ainda vai ser avaliado”, afirmou o executivo. Segundo ele, o plano anterior não era interessante para a Latam. “Com o novo plano, entramos no jogo”, acrescentou.

Procuradas, a Gol e a Azul não quiseram comentar o assunto. A Avianca Brasil também não concedeu entrevista.
Fontes a par das negociações consideram que o novo plano tem mais chances de ser aprovado pelos credores. Na visão das fontes, a criação de sete unidades atrai mais interessados e pode estimular ofertas mais rentáveis à Avianca.

Para uma das fontes, parte dos credores deve pedir ajustes no plano, com mudanças na ordem e nos prazos de pagamento das dívidas. O plano prevê que os recursos arrecadados nos leilões das UPIs serão usados inicialmente para pagar os empréstimos DIP (sigla para “Debtor In Possession”, empréstimo com caráter de investimento prévio), concedidos à Avianca Brasil.

A Azul fez dois empréstimos do tipo, no total de R$ 51 milhoes. O Elliott emprestou US$ 5 milhões em 25 de março e vai liberar outros US$ 10 milhões até sexta-feira. A Gol vai disponibilizar US$ 5 milhões e US$ 3 milhões nos dias 9 e 16 de abril, respectivamente. A Latam também se comprometeu a fazer empréstimos DIP.

O restante do valor arrecadado será usado para pagar empresas que assessoraram a Avianca Brasil na recuperação judicial, para quitar dívidas trabalhistas e credores com garantia real. Outros credores vão para o fim da fila.
O plano precisa ser aprovado pelos credores, pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). É essencial que uma saída seja encontrada rapidamente. “A Avianca está usando os empréstimos para manter suas operações diárias. Se a situação se prolongar muito, ela pode quebrar antes da venda dos ativos”, disse uma fonte próxima.

Uma das fontes acha difícil que a compra de UPIs pela Gol e pela Latam seja aprovada por órgãos reguladores. O argumento é a concentração de mercado. A Avianca Brasil tem 21 “slots” em Congonhas, enquanto Gol e Latam detêm 134 “slots” cada uma. “Se elas compram os ativos da Avianca Brasil, vão ficar com 92% dos slots em Congonhas”, afirmou a fonte.

De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), em fevereiro, a Gol liderou o mercado brasileiro de voos domésticos com 35,31% de participação, seguida pela Latam (31,10%), Azul (21,08%) e Avianca Brasil (12,20%).

Fonte: Valor