A poucos dias da assembleia geral de credores que votará o plano de recuperação judicial do Hopi Hari, o dono do parque de diversões e sua diretoria executiva travam uma disputa sobre qual proposta será apresentada no próximo dia 5. A assembleia já foi adiada três vezes por falta de quórum.
José David Xavier, presidente do Hopi Hari, disse ao Valor que a intenção da empresa é reduzir em média 45% a dívida de R$ 400 milhões que integra o processo de recuperação. O prazo para pagamento proposto é entre 12 e 21 anos. “Considerando as conversas com os credores na última semana, temos um cenário positivo para a aprovação do plano que será apresentado pela companhia”, disse o executivo.
O plano do acionista controlador, José Luiz Abdalla, estima o valor total da dívida em R$ 800 milhões; o desconto a ser oferecido aos credores seria de 29% e o prazo de pagamento chegaria a 14 anos.
Assim como Abdalla, Xavier disse que conversa com uma operadora de parques dos Estados Unidos para administrar o empreendimento. Na sexta-feira, Jay Thomas, vice-presidente internacional da operadora de parques Six Flags, com sede nos EUA, visitou o Hopi Hari, localizado em Vinhedo (SP), com quatro de seus executivos.
Xavier afirmou manter conversas com a Six Flags desde agosto do ano passado e que Abdalla tenta interferir nas conversas. Durante o feriado da Páscoa, Abdalla tentou entrar no parque, acompanhado de investidores, mas foi hostilizado por funcionários. Os investidores, que integrariam a Brazil Team Park (BTP), empresa aberta nos EUA com o objetivo de aportar recursos ao Hopi Hari, visitaram o parque. Abdalla, não.
O empresário tem 99% das ações do parque. Ele havia dito ao Valor que encaminharia sua proposta aos credores na semana passada, mas ela ainda não está pronta e não foi encaminhada. Sua proposta, se for aprovada, prevê que a Six Flags faça a gestão do parque. Ainda segundo o plano, a BTP, que tem um empresário brasileiro do setor imobiliário entre os sócios, teria se comprometido a fazer investimento adicional de US$ 70 milhões em dez anos, sendo US$ 10 milhões nos três primeiros anos. No futuro, a Six Flags teria uma opção de compra do complexo.
O presidente do Hopi Hari afirmou que o plano a ser apresentado por Abdalla é “pirata” e que o “verdadeiro” está sendo negociado pelos executivos da empresa. Luiz Donelli, sócio do Rayes & Fagundes Advogados Associados, representante do acionista, disse que “em caso de falência, todos os ativos serão liquidados. O Abdalla é quem assumirá as dívidas trabalhistas, financeiras e tributárias, que somam ao redor de R$ 800 milhões, caso a diretoria não seja condenada. Os diretores não atendem às determinações de mostrar
as demonstrações financeiras da companhia”.
No fim de 2017, Abdalla entrou com uma petição na Justiça para tirar Xavier da presidência do parque. Abdalla alega que não tem acesso às informações financeiras da empresa e que só conseguiu entrar no parque após boletim de ocorrência. Xavier, por sua vez, acusa o acionista de chantageá-lo.
O administrador judicial Gilberto Giansante, principal sócio do escritório Giansante Advogados, disse ao Valor por e-mail que Abdalla pode anexar ao processo sua proposta de negociação com os credores.
Giansante disse não ter recebido o plano do Abdalla e apenas ter ouvido “algumas coisas por telefone”. Ele acrescentou que o plano apresentado pela empresa pode sofrer alterações propostas por credores, conforme a legislação, e que está tudo certo para a assembleia marcada para o dia 5.
Sobre a operação do parque, o administrador judicial disse que a situação atual da empresa é muito melhor quando comparada à época em que o Hopi Hari entrou com o pedido de recuperação judicial, há dois anos.
“Alcançamos o ponto de equilíbrio do caixa. Desde a reabertura do parque [em agosto de 2017], recebemos 170 mil visitantes, sendo que o tíquete médio foi de R$ 80 e em alimentos e bebidas atingiu R$ 35. O ano passado foi complicado porque ficamos três meses fechados”, disse Xavier, que assumiu o comando do parque em junho do ano passado. São 416 funcionários diretos, mas na reabertura, em agosto de 2017, eram 163. No auge da operação, em 2008, foram 1.100 trabalhadores.
Os problemas do Hopi Hari começaram em 24 de fevereiro de 2012, após acidente fatal com uma visitante no La Tour Eiffel. O público encolheu, comprometendo os resultados operacionais. Dados da Associação das Empresas de Parques de Diversões do Brasil (Adibra) apontam que o setor movimenta anualmente cerca de R$ 1 bilhão.
Fonte: Valor