Insolvências de empresas devem subir no 2º semestre no Brasil, projeta Allianz Trade

No cenário-base, Allianz projeta que o Brasil poderia encerrar 2022 com 2.260 insolvências, num aumento de 15%, e alto risco de atingir 2.600 casos em 2023 em outra alta de 15%

As insolvências de empresas no Brasil podem ter altas de 15% neste ano e em 2023, após quedas no período mais crítico da pandemia, segundo projeções da Allianz Trade (ex-Euler Hermes), líder global em seguros de crédito comercial. Se confirmada, a taxa no Brasil será superior à média mundial esperada.

Conforme a Allianz, o Brasil conseguiu até agora evitar a onda de insolvências que se temia com o surto de covid-19. Em 2021, o país registrou queda de 6% nas insolvências, depois de enorme baixa de 28% já registrada em 2020.

Mais especificamente, no ano passado, houve retração de 12% nas insolvências de pequenas empresas (948 casos), de 20% no caso de médias (268 casos) e de 33% de grandes (129 casos) ao combinar falências e recuperações judiciais requeridas. A única exceção foi o crescimento das recuperações judiciais concedidas (+32%, 617 casos). No geral, o Brasil encerrou 2021 com 1.962 casos, ou seja, o menor número anual desde 2015.

A companhia nota que as primeiras cifras de 2022 apontavam outro baixo nível de insolvências, com 450 processos representando um número trimestral quase estável em relação ao mesmo período de 2021 (453 processos) e 2020 (460 processos). A companhia nota, porém, que no Brasil, como em muitos outros países, os números da insolvência foram parcialmente artificiais nos últimos dois anos e influenciados por fatores como o apoio estatal, o fechamento de tribunais, a paralisação sanitária e econômica.

Agora, a expectativa é do que a companhia chama de uma certa “normalização” no número de insolvências. Os atuais “ventos contrários” com a guerra na Ucrânia e os novos bloqueios nas maiores e economicamente mais importantes cidades chinesas podem levar a uma aceleração no número de insolvências durante a segunda metade do ano no país.

Nesse cenário-base, Allianz projeta que o Brasil poderia encerrar 2022 com 2.260 insolvências, num aumento de 15%, e alto risco de atingir 2.600 casos em 2023 em outra alta de 15%.

Globalmente, a tendência é de crescimento das insolvências de empresas. Além da guerra na Ucrânia e confinamentos na China, os governos estão deixando de oferecer o suporte que evitou que a inadimplência das empresas aumentasse rapidamente em 2020 e 2021.

Com isso, Allianz projeta que as insolvências globais devem retornar a níveis similares ao período pré-pandemia: 10% em 2022 e 14% em 2023, comparado a queda de 12% tanto em 2020 como em 2021.

Aponta, em todo o caso, três sinais-chave que podem minimizar o aumento da inadimplência das empresas. Primeiro, em termos de caixa: o saldo total das empresas listadas no relatório foi 30% maior no início de 2022 do que em 2019 em nível global; segundo, o número de empresas frágeis (ou seja, aquelas que podem ficar inadimplentes nos próximos quatro anos, com base na rentabilidade, capitalização e cobertura de juros a partir de 2021) permaneceu controlado na Europa; terceiro, a temporada de lucros do primeiro trimestre de 2022 confirmou que as empresas listadas têm repassado os altos custos de produção para o preço final.

Após as baixas registradas durante a pandemia, graças ao apoio governamental, as insolvências podem crescer 15% e 33% na França em 2022 e 2023; e 4% e 10% na Alemanha. Allianz nota que governos europeus já começaram a reagir a riscos para as empresas com desaceleração da demanda. Os governos da França, Alemanha e Itália já estenderam os programas de desemprego existentes e introduziram novas formas de empréstimos garantidos pelo Estado, com possibilidade de novas medidas serem adotadas enquanto a crise durar.

Nos Estados Unidos (+8% em 2022 e +23% em 2023), as empresas devem se beneficiar dos fundos acumulados desde a pandemia, ajudada pelo Programa de Proteção a Contracheques sendo massivamente transformado em subsídios e a recuperação dos lucros.

Fonte: VALOR ECONÔMICO