A fabricante de pás eólicas Tecsis conseguiu apoio de credores que representam mais de 60% dos débitos para protocolar, na semana passada, seu pedido de recuperação extrajudicial, formalmente aceito ontem pelo Judiciário, com a adesão da Unipar, além de credora, ex-integrante do bloco de controle com 17% do capital.
De uma dívida total de R$ 996 milhões (sem incluir compromissos trabalhistas e fiscais), R$ 745 milhões serão objeto dessa reestruturação, dado que os demais créditos têm garantia real ou são financiamento à exportação.
A fatia reestruturada da dívida cairá para R$ 248 milhões, o que implica desconto de 67%, já considerando o valor presente, dado que os prazos de vencimento foram alongados para um intervalo de oito a 30 anos.
A empresa conseguiu negociar ainda um período de carência de dois anos para pagamento de juros e início das amortizações, e mais um ajuste também da dívida bancária não sujeita à recuperação, deixando o passivo total em R$ 313 milhões (novamente sem trabalhistas e fiscal).
O processo de recuperação extrajudicial provocou mudanças também no quadro societário. Antes, o BNDES tinha 33% das ações, a Estáter 28% e a Unipar 17%, enquanto o restante do capital era dividido entre bancos (que haviam convertido dívidas no passado) e Bento Koike, fundador da Tecsis. Com reestruturação e acordos recentes, a Estáter ficará com 87% e o BNDES com a fatia remanescente.
A Tecsis que existe hoje tem apenas uma fábrica, em Camaçari (BA), 1,2 mil funcionários e uma receita anual projetada de pouco mais de R$ 175 milhões, o que a gestão considera suficiente para gerar um resultado levemente operacional positivo, embora a viabilidade da recuperação dependa do sucesso de um novo plano de crescimento das receitas.
No ano passado, a empresa, que ainda conservava sete das quinze unidades produtivas que chegou a ter e empregava 7 mil pessoas, faturou R$ 1,01 bilhão.
Mas uma sucessão de eventos negativos levou à empresa ao desequilíbrio financeiro.
“Houve um erro de avaliação inicial na Tecsis. Todos nós erramos”, reconheceu Pércio de Souza, sócio da Estáter, que assumiu a gestão da empresa em 2011, e acabou sugerindo a entrada da Unipar como sócia. Em seis meses, a companhia dragou por completo o aporte de US$ 120 milhões que os novos acionistas fizeram para assumir o negócio na época.
A concentração de mais de 90% das vendas com a GE, que fazia encomendas da ordem de R$ 1 bilhão por ano, foi um dos principais riscos identificados – ainda que não fosse o único problema na gestão da companhia.
A diversificação da carteira viria com a conquista da Alstom como cliente, que chegou a fazer pedidos de US$ 700 milhões até 2020. Mas o envolvimento da empresa francesa em denúncias de corrupção no Brasil teria afetado a condução dos negócios no país e a posterior venda para a própria GE jogou água nos planos.
Para piorar a situação, no ano passado, a GE acabou comprando também a fabricante de pás eólicas LM, uma das principais concorrentes da Tecsis no mercado global deste segmento, ao lado da TPI.
Resultado, não só as encomendas da Alstom não vieram como as da GE também foram abruptamente cortadas. Hoje a Tecsis tem como clientes a Siemens Gamesa e Nordex Acciona e tenta converter propostas para obter novos contratos.
Fonte: Valor